domingo, 22 de setembro de 2013

Belém do Pará, 09 de setembro de 2013

            Estou aqui com você ás 12:00. Ao barulho do relógio que pertuba a noite de quem dorme comigo. Preciso conversar com alguém. Por favor não me deixe de lado. Me leia. Ontem foi domingo, todos na bela Belém costumam sair para se divertir. Menos eu. Falta de lugar a ir não é. Falta de alguém disponível para mim? Sim. Você deve estar pensando: Porra lá vem ela me fazer de terapeuta. Contar a mim todos os seus males. Me desculpe se é isso que pensa. Tente imaginar alguém que tem uma família imensa que não tem ninguém que venha te perguntar: Oi você tá bem? Como vai a faculdade? Quando chega o final de semana cada um pega seu par e sai para curtir a cidade. E eu? Fico no facebook jogando. Minha mãe está numa clínica psiquiátrica e o marido dela acha que e a minha obrigação cuidar dela. Cuidar de alguém que me deixou há 15 anos? Não vou rejeitá-la. Mas parar a minha vida por uma pessoa que não estva comigo nos momentos em que mais precisei. Nunca é tarde para se arrepender, mas não me peça que esqueça por tudo o que eu passei. A minha vida poderia ser tão diferente. Ela não escutou as madrugada que a chamei feito louca no meu quarto. Eu era uma criança que precisava de um calor de mãe. Que não tive. Felizmente Deus me deu uma mãezinha. Ela não sabia muito bem demonstar o quanto me amava. Mas eu sei que o amor dela por mim era enorme. Porém me tiraram ela quando eu tinha 13 anos. Depois disso alguém que eu nem conheço vem me dizer que eu tenho alguma obrigação? NÃO. Quando a minha mãezinha de criação morreu eu fui ao quarto dela quando ochei em um prego atrás da janela dela... sabe o que estava pendurado lá? Um quadrozinho feito de palito de picolé que no meio estava uma foto dela. Sabe o que era isso? Um trabalhinho do dias das mães que fiz na alfabetização. E ela tinha guardado. Lembrar disso me emociona até hoje. Tanto que não consigo parar de chorar. Bom, eu estava meses sem escrever uma linha se quer. Por tantos problemas que eu estou passando. Daqui a um mês é meu aniversário. O que eu queria ganhar? Você deve achar que é uma família nova. Mas não. A minha eu adoro. Não peço que sejam outras pessoas. Eu só queria que alguém demonstrasse que se preocupa se eu me jogar da janela. Se é que você me entende. Mas acho que é pedir demais. Nem sei mais o que escrever, Pra quem estava com um sério bloqueio mental e a primeira coisa que escreve é justamente o que passa em sua mente é difícil. Mas eu sei que você entende que eu não consigo passar daqui. Você não pede que eu chegue até o seu fim. Mas obrigada por esse desabafo. Isso foi uma bela experiência.
Inspiração

Era 17:00 de um belo domingo. Fora uma tarde chuvosa, mas naquele momento o sol havia voltado e já estava indo embora para dar lugar a lua. Porém , o restinho de calor do sol e o cheiro de chuva eram o bastante para alguém que encontrava sentado na varanda de sua casa esperando uma inspiração para escrever uma história que fizesse uma única coisa. Que lhe tocasse.
            Foi em um único segundo que percebeu que não precisaria mais esperar a inspiração, que não precisaria criar nada, a história que esperava com tanta ansiedade lhe tocou naquele mesmo dia.
            As 10:00 daquele domingo foi ao velório de uma criança que havia morrido por causa de um tumor no fígado. Uma criança de apenas 7 anos. Você consegue imaginar tal fato? Uma criança. Quando viu aquela cena trágica, engoliu o choro em seco na mesma hora, a mãe não levantada a cabeça de cima do corpo do filho para nada. Aquele alguém não havia tido contato mais próximo com o menino, era seu primo, mas distante. Relatos sobre a personalidade do garoto era o que não faltava no velório.
            Estudioso, alegre, a alegria da casa. É espantoso saber quantas coisas esse menino não viveu. O primeiro beijo (que talvez não tenha vivido, não sei), a aprovação no vestibular, a formatura, o primeiro porre, entre tantas e tantas outras coisas que viriam a acontecer.
            O pai do garoto não conseguia parar de chorar, foi com muito esforço que disse algumas palavras.
            - Meu filho! Deus te tirou de mim! Porque ele fez isso? Tudo que você me pedia eu fazia tanto esforço para lhe dar. Lembra que você adorava um shampoo de camomila? Eu lhe disse um dia: “Filho esse shampoo está te deixando loiro” e você respondeu: “Não papai! Eu sou pretinho!”. Meu filho estava tão preocupado com as provas que já estavam chegando. Mas amanhã ele não vai mais pra escola!”
            E o pobre homem voltou a chorar com tanto que a dor dele era totalmente transparente a todos os presentes naquela sala que estava infestada do cheiro de flores e velas.
            A mãe não aguentou por muito tempo, desmaiou e se encontrava no quarto descansando.
            Estava cada vez mais difícil para aquele alguém sentado no sofá vermelho já antigo segurar o choro. Não esperou o enterro e foi logo para casa.
            No final dessa história o poeta assimilou algo: As histórias mais tocantes e inspiradoras não são as criadas, mas as vividas.


Luana Pena